literatura e arte

literatura e arte
"Cuando la lectura pasa a ser parte de la vida del individuo en forma naturaly,se convierte en hábito e dificilmente se puede dejar"

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O pinguço

Cá entre nós, o Joaquim gostava tanto da marvada da cachaça, que desconfio que misturava até na comida. Bebia de segunda á segunda. Fizesse chuva ou sol. Dizem que tomou gosto pela branquinha, ainda menino. A avó materna dava lhe uma dose uma vez por semana para enfraquecer as lombrigas. Não fazia mal algum, já que a própria anciã tomava pelo menos meia garrafa ao dia, e sempre teve uma saúde de ferro. A mãe de Quinzim (como era chamado) não gostava da ideia de ver o menino aos seis anos, bebendo o tal remédio sem fazer cara feia. Pelo contrário, dando bicotas. Reclamava com o marido, mas esse se pelava de medo da sua progenitora, por isso fazia de cego. O certo é que Joaquim cresceu e continuou enfraquecendo as lombrigas, só que as doses multiplicaram e passaram a ser diárias. Verdade seja dita, ele se tornou um homem forte (um tanto avermelhado, talvez pela cachaça), Nunca se queixou nem de dor de dente. Casou-se cedo. Á sua maneira foi um bom marido, mas nunca foi pai. Acredito que por nunca passar as noites sóbrio. Havia fartura em seu lar, pelo menos de cachaça e carne (para tira-gosto). Amigos também eram fartos, todas as noites vinham direto do trabalho para a casa do Quinzim. A mulher desse , não gostava nada de ver os marmanjos bebendo ,tocando viola, emporcalhando a sala com tocos de cigarro, urinando na tampa do vaso e gargalhando até altas horas. Mas desistira de reclamar sem ser ouvida. O próprio marido dava mal exemplo escarrando pelo chão, limpando as mãos engorduradas nas cortinas e arrotando pelo simples prazer de fazer barulho. Nem dormir a pobre podia, pois não é que uma noite um dos tais amigos, transtornado pelo álcool imaginou que estava em casa deitou na cama do casal, e de quebra abraçou a mulher que gritou apavorada. Ao ouvir os gritos Quinzim entrou cambaleando no quarto e ralhou com a esposa por fazer escândalo por motivo tão bobo. Durante muitos anos a mulher que era evangélica fez campanhas, orou e esperou que um milagre acontecesse, mas ao completar cinquenta anos, (na dita idade da loba), foi embora da cidade com um pregador, uma década mais jovem que ela. Quanto ao pinguço ,digo, ao Quinzim, viveu até os oitenta e cinco anos. Jamais padeceu de solidão. Não lhe faltaram amigos e muito menos uma boa cachaça. Vânia Lopes 05/07/2012

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A vizinha encrenqueira

Pode perguntar a qualquer um. Leocádia era tão encrenqueira, que é lembrada até hoje em todo o bairro. Se passava pelas ruas e encontrava um grupo de senhoras, logo fechava a cara. Se a cumprimentavam era pior. Recebiam o nome de sem que fazer. Dona Leocádia achava o cúmulo do absurdo que mulheres casadas, perdessem tempo em conversas nas esquinas. As moças da vizinhança tinham-lhe verdadeiro horror. Se Dona Leocádia as encontrasse em uma simples conversa com algum rapaz, arregalava os olhos, empinava o queixo e as chamavam de perdidas. Nem as noivas e de casamento marcado escapavam. Se fossem encontradas de mãos dadas com o futuro esposo, tinham que engolir a insinuação de que se casariam buchudas. Quando ela passava enfrente a algum boteco, esticava tanto o pescoço para ver quem estava lá dentro, que os ocupantes tinham a impressão de estarem sendo vigiados por uma cascavel. Até o mais corajoso tremia quando ela parava e com um dedo seco apontava para alguém e disparava uma metralhadora de acusações. Vagabundo, cachaceiro, pudim de cana, desocupado,come- e- dorme, eram só alguns dos apelidos que o infeliz recebia. As crianças também não eram poupadas. Caso estivessem jogando futebol e a bola caísse no quintal de Dona Leocádia, podiam esperar para a receberem de volta aos pedacinhos. Se as meninas começassem a brincar de amarelinha ou rouba bandeira, próximo ao portão da encrenqueira, logo tinham que mudar de lugar, pois justo nesse momento, dona Leocádia resolvia lavar a calçada e enquanto lavava ia resmungando xingamentos. Até o padre suava frio,quando a via entrar na capela,pois a cada capitulo que ele lia das escrituras, era interrompido. Ela discordava de tudo e debatia sobre a bíblia com uma ferocidade assustadora. Se o sermão era sobre o salmo vinte e três “O senhor é o meu pastor e nada me faltará” ,dona Leocádia se avermelhava, levantava do banco e com ar maldoso, dizia que ali estava cheio de preguiçosos e que aquela promessa de benção, não estava sendo dirigida para aquele povinho atoa, e que o padre estava incentivando os fieis a esperarem que as coisas caíssem do céu. Dizia ainda que cada ovelha tem o pastor que merece. Para alívio da comunidade dona Leocádia faleceu. Sem ter outra opção, a morte a recolheu aos oitenta e nove anos. Vânia Lopes 13/06/2012